O carcinoma hepatocelular é um cancro com origem no fígado que ocorre na maioria das vezes em pacientes com doenças crónicas do fígado. É o tumor com origem no fígado mais frequente e na maioria das vezes o seu diagnóstico é tardio pelo que, em média, após o diagnóstico o tempo de sobrevivência do doente é entre 6 a 20 meses.
Mais de metade dos doentes com cancro do fígado apresentam cirrose, que pode estar associada ao consumo excessivo de álcool ou hepatites crónicas. As principais causas de hepatites crónicas são a infeção pelo vírus da hepatite B e C, que são fatores de risco para o desenvolvimento de cancro hepático. Outra doença que pode estar na origem do cancro do fígado é o “fígado gordo” (esteato-hepatite não alcoólica).
Os sintomas do cancro hepatocelular podem ser inespecíficos, como perda de peso, falta de apetite e emagrecimento. Os doentes podem ainda referir queixas como sensação de enfartamento após uma refeição ligeira, vómitos, dor abdominal do lado direito, icterícia (pele e mucosas de cor amarela), aumento da barriga por acumulação de líquido abdominal, febre e prurido (comichão).
Os doentes com risco elevado de virem a desenvolver cancro do fígado (nomeadamente os que apresentam cirrose e alguns com infeção pelo vírus da hepatite B), devem ser submetidos a um rastreio periódico. Este rastreio inclui a realização de uma ecografia abdominal e a avaliação numa análise de sangue de um marcador tumoral designado alfa-fetoproteína. O diagnóstico de hepatocarcinoma pode ser suspeitado através de ecografia abdominal e confirmado por TAC ou ressonância magnética. Em alguns casos, o diagnóstico definitivo requer a realização de uma biópsia do nódulo.
O tratamento do cancro do fígado depende de vários fatores, entre eles: a localização e a extensão do tumor, se a função do restante fígado está preservada bem como o estado geral do doente. Tumores de pequenas dimensões limitados ao fígado poderão ser removidos por cirurgia. Contudo, em doentes com cirrose este tipo de tratamento pode não ser possível de se realizar, porque uma parte importante do fígado poderá estar danificada. Outra possibilidade de tratamento curativo é a realização de um transplante de fígado que implica uma avaliação exaustiva de forma a se decidir se o doente é ou não um candidato adequado a este tipo de tratamento. Existem vários tipos de tratamento que podem ser oferecidos ao doente e que tem como objetivo a destruição local do tumor através da injeção de uma substância ou da aplicação de energia nas células tumorais.
É fundamental a prevenção do desenvolvimento de doenças hepáticas, independentemente da sua causa e o tratamento adequado infeções como hepatites B e C crónica, doenças hepáticas relacionadas com fígado gordo, consumo de álcool e excesso de acumulação de ferro no fígado (hemocromatose).
Drª Rosa Coelho,
Médica gastroenterologista no Centro Hospitalar São João a convite da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia