A doença crónica do fígado, denominada doença hepática crónica, é atualmente a sétima causa de morte na Europa, sendo responsável por cerca de 2500 mortes por ano em Portugal. A doença hepática crónica pode ter várias causas, entre elas o consumo excessivo de álcool, os vírus das hepatites B e C e o “fígado gordo”, também designado por esteato-hepatite não alcoólica. Ao longo do tempo, as diferentes causas de doença hepática podem provocar inflamação do fígado e induzir uma resposta cicatricial, denominada fibrose hepática. Quanto maior o grau de fibrose, maior o risco de surgirem complicações como a cirrose e o cancro do fígado (carcinoma hepatocelular). Assim, a determinação do grau de fibrose (estádio de fibrose) é uma ferramenta clínica fundamental para definir a melhor estratégia de tratamento e de seguimento da doença hepática crónica.
Até recentemente, a biópsia hepática (punção do fígado com uma agulha através da pele) era a única forma de estadear a fibrose. No entanto, a biópsia é um procedimento invasivo e não isento de complicações graves. Assim, nas últimas duas décadas, foram desenvolvidos métodos alternativos e não invasivos para determinar o estádio de fibrose do fígado. Entre os mais estudados e difundidos na prática clínica, destaca-se a elastografia hepática baseada em ultrassons. Fundamentando-se no princípio de que a fibrose do fígado resulta na redução da sua elasticidade (e aumento da sua rigidez), esta técnica utiliza ultrassons para quantificar a elasticidade do fígado, permitindo assim determinar de forma não invasiva o seu estádio de fibrose.
A elastografia hepática baseada em ultrassons é um procedimento simples, rápido e indolor, realizado de forma idêntica a uma ecografia abdominal superior, muito seguro, sem efeitos secundários descritos e sem complicações conhecidas. Existem várias modalidades de elastografia hepática, salientando-se a elastografia transitória, também conhecida como Fibroscan, e a elastografia shear-wave. Para ambas as modalidades, inúmeros estudos clínicos demonstraram a sua elevada acuidade diagnóstica no estadiamento da fibrose do fígado.
A segurança, o conforto e a elevada acuidade diagnóstica da elastografia hepática baseada em ultrassons conduziram à sua rápida expansão na prática clínica, assumindo atualmente um papel essencial na avaliação da doença hepática crónica.
Dra. Susana Marques
Médica Gastrenterologista na Fundação Champalimaud
Secretária-Geral do Grupo Português de Ultrassons em Gastrenterologia (GRUPUGE), da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia